Foi numa aldeia perdida no norte do país, junto à fronteira com Espanha, que fomos encontrar o lugar ideal para relaxar, fugir da cidade e restabelecer as ligações com a natureza. Situada na margem da Albufeira de Alto-Rabagão (Pisões), Parafita é uma aldeia de Montalegre abençoada pela paisagem espetacular da Serra do Barroso e digna de ser visitada.
O projeto que lhe trazemos hoje foi desenhado por Sofia Neves e Nuno Flores, dois arquitetos portugueses cheios de talento, da equipa Escritório de Arquitetos e resulta de um trabalho que prima sobretudo pelo grande respeito pela sua envolvente.
O terreno disponibilizado para construção era marcado pela presença de uma linha de água e quatro moinhos outrora fundamentais para a vivência económica da aldeia. Os arquitetos optaram por ocupar um pequeno percurso para animais um pouco acima destas préexistencias, projetando um espaço que através de alguns volumes se implanta ao longo deste caminho.
A intervenção integra três habitações independentes unidas por um percurso cuidadosamente desenhado – Trabalho desenvolvido pelo arquiteto paisagista Daniel Monteiro que parece ter assumido um papel preponderante ao longo de todas as fases.
Cada uma das implantações é constituída por três espaços distintos: O primeiro com utilização reservada ao descanso com um ou dois quartos, o segundo com áreas comuns dedicadas ao convívio e ainda um terceiro espaço que une os anteriores e integra a casa-de-banho. Este terceiro espaço é o principal responsável pela integração da obra na envolvente sendo que os primeiros mantém formas idênticas nas diferentes implantações e o terceiro vai estabelecendo as ligações consoante o terreno, orientação solar e vegetação.
Preconizando mais uma vez a relação com a natureza, os módulos foram construídos em ripas de madeira de pinho e assentam sobre uma plataforma de pedras regionais que vencem a diferença de cotas. Tal como todo o projeto, as portas e vãos foram desenhados à escala da típica construção desta região do país.
No interior as ripas de madeira foram pintadas de branco de forma a tornar os espaços mais amplos e a multiplicar a sensação de iluminação. No pavimento foi mantida a cor natural da madeira, talvez para nos relembrar que temos os pés assentes na natureza.
Devido à vontade de fazer uma intervenção cirúrgica e pontual na envolvente as dimensões dos espaços foram enquadradas nos mínimos legais sendo que cada habitação é constituída por cerca de cem metros quadrados. No entanto, a clareza funcional dos espaços e a sobriedade das divisões conferem uma sensação espacial bastante superior às dimensões reais do projeto.
Um excelente indicador da qualidade do projeto é o desenho das escadas e guarda que as acompanha. Só mesmo em projetos de excelência é que estes espaços de circulação são de tal forma agradáveis, convidando-nos a escolher um degrau e ficar por ali a conversar.
A decoração dos espaços não podia ser mais minimalista sendo que a quantidade de mobiliário é bastante reduzida e a paleta é branca. Uma decisão inteligente que confere protagonismo à paisagem e transforma os vãos desenhados pelos arquitetos em verdadeiros quadros.
O mais interessante neste projeto é a sensação de que ele não foi construído em 2007, esteve sempre lá. Cresceu com as árvores e alimentou-se das linhas de água dando origem a formas habitáveis.
As duas primeiras casas já se encontram construídas e esperemos que a terceira se materialize brevemente.