Homenagem a Le Corbusier

Rita Gouveia (homify) Rita Gouveia (homify)
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Segunda-feira passada dia 6 de Outubro, assinalou a celebração do aniversário de Le Corbusier que nasceu na Suiça em 1887 sob o nome de Charles-Édouard Jeanneret-Gris. Ao mesmo tempo,  também se celebrou um pouco por todo o mundo o Dia Internacional da Arquitectura. Seguindo o mote internacional deste ano Cidades Saudáveis, Cidades Felizes escolhido pela União Internacional dos Arquitectos (UIA), a Ordem dos Arquitectos portugueses decidiu assinalar o dia com uma programação dedicada ao tema da sustentabilidade das cidades, através de um programa de exposições, debates e conferências, a realizar até ao final de Outubro.

Le Corbusier foi um dos nomes maiores da Arquitectura moderna, tendo reinterpretado as linguagens arquitectónicas, estilísticas e construtivas da sua época. Corbusier foi um visionário tal como foram também os seus contemporâneos Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Louis Kahn ou Gropius. Todos eles à sua medida e segundo o seu estilo, contribuiram imensamente para o desenvolvimento da Arquitectura tal como a conhecemos hoje. Corbusier cedo se emancipou, viajando pela a Europa, América do Sul e Oriente onde se inspirou para a sua obra futura. De espírito livre e mente aberta foi assimilando e interpretando as várias culturas que foi conhecendo, considerando todavia a Arquitectura clássica o pilar de todos os seus desenvolvimentos. Aliado a tudo isso Corbusier criou uma arquitectura que pretendia responder às novas necessidades das cidades, que resultando das constantes evoluções socio-económicas exigiam novos equipamentos e conceitos urbanísticos diferentes. A sua obra ficou marcada pela dialéctica entre volumes e espaços, assim como pelo seu poder de síntese que aplicou em construções de índole pública e privada.

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(Creative Commons atribuído a : Susleriel)

Le Corbusier foi uma figura carismática do seu tempo, destacando-se não só pela sua obra mas também, pelo seu carácter e estilo pessoais. Os óculos de massa redondos e pretos são uma imagem de marca assim como é também a famosa imagem do Modulor aplicada às suas obras.

Para além da Arquitectura, Corbusier também deixou um notável legado no Design de mobiliário e na Pintura, que manteve simultaneamente à sua prática arquitectónica.

Villa Savoye (Poissy, 1928-1931)

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(Creative Commons atribuído a : Rory Hyde)

Uma das obras-primas de Corbusier que é também um dos seus primeiros projectos construídos sob a série das suas villas blanches, é a Villa Savoye. Projectada segundo o ideal de que “a casa é uma máquina para habitar”, foi encomenada por uma abastada família francesa para ser uma casa de campo, isolada da metrópole Paris. O edifício foi concebido no meio de um verde terreno na cidade de Poissy, criando uma miragem moderna de uma caixa branca, imaculada e flutuante na paisagem circundante.

Assente nos famosos “5 pontos para uma nova Arquitectura” esta moradia unifamiliar espelha elementos como o Purismo, a exploração das novas técnicas construtivas permitidas sobretudo à custa do betão armado assim como, todo o sistema estrutural e estético desenvolvido por Corbusier. Alçados, volumes e estrutura livres e totalmente experimentais, assentes num conjunto de finos pilotis, janelas horizontais e corridas, geometrias puras e simplificadas, dão a identidade e importância hoje conhecida a esta Villa nos arreadores de Paris. 

Unidade habitacional (Marselha, 1946-1952)

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(Creative Commons atribuído a : Vincent Desjardins)

A Unidade de Habitação de Marselha de Le Corbusier – uma das mais importantes propostas de habitação colectiva do século XX –, assenta essencialmente no estudo do conjunto dos apartamentos que constituem o edifício. No entanto, Le Corbusier dá-nos vários sinais de que o que se encontra no topo do bloco habitacional apresenta grande relevância. Ao desenhar estes lugares de representação da comunidade, Le Corbusier não faz mais que recriar a espacialidade grandiosa e pitoresca dos lugares públicos da Antiguidade, os lugares de representação e glorificação do colectivo que estiveram na origem da nossa cultura, e que constituem o âmago da nossa tradição: a praça pública grega, e o espaço foral romano. Através de um apurado sentido histórico mas também de abstracção e através da suspensão voluntária da sucessão e compartimentação temporal, assim como das subsequentes explicações evolutivas e catalogações, Le Corbusier faz uso de uma visão sincrónica dos lugares públicos da Antiguidade, vinculando o passado ao presente, estabelecendo entre eles contactos, sobreposições.

Capela Nodre-Dame-du-Haut (Ronchamp, 1950-1955)

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(Creative Commons atribuído a : senhormario)

A sudeste de Paris, situa-se uma das obras mais significativas da carreira de Le Corbusier, a Capela Notre-Dame du Haut (Nossa Senhora das Alturas), ou mais comumente referida como Ronchamp. Em 1950, Le Corbusier foi contratado para projectar uma igreja católica para substituir a igreja anteriormente destruída durante a Segunda Guerra Mundial. O programa era simples: nave principal, três pequenas capelas para cultos mais reservados e independentes da missa colectiva e um altar externo para as cerimónias campais, nos dias de peregrinação. Foi pedido também uma sacristia e um pequeno escritório num piso superior. Além disso, o aproveitamento da água das chuvas era um factor importante para o projecto, devido à sua escassez na colina. O edifício é configurado por quatro muros, bem definidos em planta, que delimitam as quatro fachadas e representam os quatro pontos cardiais. A grande, pesada e sinuosa coberta de betão armado aparente é o que dá unidade ao conjunto e é o que evidencia os dois escorços -mais que quatro fachadas- sob os quais o edifício foi concebido: o escorço sudeste, formado por dois muros côncavos, com amplos beirais, convidando o acesso à capela e criando os espaços de congregação; e o escorço noroeste, formado por dois muros convexos, sem beirais, e demarcados pelas três torres das capelas discretamente separadas dos muros adjacentes.  Maciço e pesado externamente, a capela de Ronchamp é uma desmaterialização espacial produzida pela luz, que invade por todas as partes o seu interior, “como se escorresse”.

Convento La Tourette (Éveux, Rhône-Alpes, 1960)

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(Creative Commons atribuído a: p2cl)

O terreno apresenta um acentuado declive e poderosas vistas. Cada uma das cem células possui um balcão virado para o exterior, com as áreas comuns em baixo e o claustro contínuo à volta da cobertura. O edifício é materializado através de betão armado, com superfícies envidraçadas em três das quatro faces externas. O Mosteiro é composto por cem células individuais, uma biblioteca comunitária, um refeitório, uma cobertura claustro, uma igreja, e salas de aula. Os pilotis alinham-se às paredes internas e abrem as fachadas a grandes panos de vidro. Os clássicos telhados-jardins delimitam uma promenade arquitectónica.  O interior da capela revela uma caixa de betão armado, que concede a sua essência espiritual através da utilização da luz natural e das cores fortes, selectiva e cuidadosamente inseridas. A luz desempenha um papel fundamental no projecto e responde às necessidades funcionais e à simbologia de cada espaço.

Palácio da Assembleia de Pendjab (Chandigarh, 1955)

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(Creative Commons atribuído a : duncid)

Corbusier planeou a cidade de Chandigarh nos anos 50 que influenciou de tal maneira a qualidade de vida dos seus habitantes que actualmente a cidade é uma das mais ricas da Índia, sendo possível ter-se um tipo de vida bem diferente daquele que esperamos de uma Nova Déli ou de uma Índia em geral, onde os traços civilizacionais são muito ténues. O arquitecto pensou Chandigarh como uma cidade do futuro que fosse capaz de responder a novas costumes e necessidades, trazendo para a índia um pedaço de progresso e modernismo. Foram criados parques verdes, lagos artificiais, edifícios de Governo, unidades habitacionais e foi estudada a topografia do local. O plano urbanístico da cidade espelha claramente a influência clássica da cidades greco-romano, fazendo uma alusão clara aos estudos de Hipódamo de Mileto.
No caso do Palácio da Assembleia, é o betão armado quem concede a materialidade ao edifício, que se ergue monumental na vasta paisagem de Chandigarh. A estrutura reticulada ortogonal e homogénea marca as laterais da obra: faixas horizontais e verticais dispostas diagonalmente. Na coberta, cúpulas e volumes de desenhos inusitados criam a forma do edifício, que não é senão uma base para o jogo de objectos sobre ela. O plano estrutural configura uma planta livre.

Pavilhão Philips (Bruxelas, 1958)

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(Creative Commons atribuído a :  Wouter Hagens)

A Exposição Universal de 1958 que teve lugar em Bruxelas, foi a primeira a acontecer depois de finda a Segunda Guerra Mundial, tendo impulsionado e se orientado sob o lema da paz mundial e do progresso económico. O projecto foi liderado por Le Corbusier e por Iannis Xenakis, que fizeram deste projecto uma experiência arquitecónica e sensorial, articulando várias disciplinas num só projecto: um corredor inicial recebia os visitantes com uma composição de Xenakis, que além de arquiteto era compositor experimental, e os convidava a passagem para o centro do pavilhão. Com uma superfície não homogénea, a obra envolvia o público num espaço de luz e som por oito minutos, enquanto era exibido um vídeo nas paredes do pavilhão ao som da composição de Edgard.
O edifício ergue-se como uma tenda. Três pontas criam as formas hiperbólicas vindas de uma simples equação matemática. Uma fina casca composta por painéis de betão pendurados por cabos de aço compõe o revestimento da estrutura, criando uma textura que enfatiza o movimento das formas com as diferentes direcções em cada plano.

Em suma, Le Corbusier foi de facto um vanguardista no seu tempo, tendo deixado um importante legado arquitectónico que continua nos dias de hoje, a ser essencial na carreira de qualquer arquitecto que se preze.

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